terça-feira, 17 de maio de 2011

Sobre a polêmica do livro "Viver, aprender"

Face a esse último polêmica que o livro didático "Viver, aprender" vem causando, sugiro que se abra  o espaço para o debate.

Após tantos anos de implantação da linguística nos currículos escolares da graduação, acho anacrônico ainda ter que ouvir argumentos esdrúxulos de quem acha que pode legislar sobre a língua. E a imprensa, nesses casos, quase sempre toma partido a favor do anticientífico (talvez por ser mais cômodo ou, talvez, por igorância mesmo), ao retomar velhos preconceitos, antigas posições que notadamente se prendem a uma concepção de linguagem completamente antiquada, como já mostraram vários autores, sobretudo, POSSENTI e BAGNO).

Temos uma ciência que refuta os pontos de vista de quem só conhece o estudo da língua pelo senso moral (maniqueísmos de "certo e errado"). Na ciência, como sabemos, não há espaço para palpites infundados, mas para hipóteses, provas e refutações. E estas, já as temos em número suficiente, basta mostrá-las.



O que daria uma boa análise é ver como esses pré-conceitos, sobretudo os linguísticos, são reavivados tão rapidamente... Isso só nos mostra que a tradição gramatical tem ainda (e infelizmente!) um peso sobre o que, talvez, não tenha saído d...as aulas de graduação em linguística. Será?! Não esqueçamos que algumas categorias da GN foram definidas por Aristóteles, que os hindus resolveram conservar os Vedas pela tradição gramatical e que os antigos gregos chamavam 'bárbaros' aqueles povos que falavam diferentes deles. Naturalmente, e não estou sendo contraditório, que isso não justifica posições como a que a imprensa toma, em se tratando do uso da língua. Mas ainda teremos que conviver com essa 'ignorãças' enquanto o Brasil for uma país onde o conhecimento é mau visto, e por conta disso, muitas vezes restrito ou constrangido ao espaço acadêmico. Deixo aqui um trecho do livro de Manoel de Barros:    
Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumar das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas. (Livro das ignorãnças)